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Barulho do pensamento

Minha cidade está crescendo e assim como Campo Grande eu vou seguindo ampliando meus horizontes.
Sei que novas construções estão sendo erguidas. Novas avenidas e ruas são abertas facilitando o trânsito. Quem me conta tudo isso?
Não tenho carro, então, recorro à meios de transportes diferentes (táxi, moto táxis, ônibus) e aqui e ali vou ouvindo coisas, costurando a colcha de retalhos que não aparece nos jornais. Dia desses um simpático taxista me disse que levou um empresário para conhecer um mega empreendimento: “Ele ficou encantado com o verde da cidade, o trânsito fluido e a “pluralidade” (falei certo?) de investimentos locais”, contou.
É, isso mesmo pluralidade, corrigi com ares de sabedoria, desci do carro e caminhei até entrar em casa enquanto assimilava a imagem que a cidade constrói para quem a visita pela primeira vez.
De ônibus, o transporte mais usual, encontrei um grupo que conversava de forma barulhenta e silenciosa. Não emitiam sons. As mãos por outro lado, não paravam quietas. Eram surdos e mudos.
Descobri que no grupo tinha uma intérprete, na verdade, a moça tinha uma pequena deficiência auditiva. Conversamos animadamente, e eu, fiquei encantada com a forma habilidosa que ela tinha de se comunicar.
Invejei a destreza dos movimentos que ela fazia e a capacidade de ler lábios. Perguntei o que eles sentiam em relação à ouvir apenas o barulho do silêncio. Pensei que talvez não fosse a pergunta mais apropriada. A resposta foi rápida: Ouvimos o barulho do nosso pensamento.
Você ouve o barulho do seu pensamento? Devolveram.
[sic]
Prosseguimos a conversa tratando de assuntos mais triviais. Novamente, o crescimento da cidade, a geração de empregos para pessoas com deficiência e algumas piadinhas irônicas entraram na roda. Mas, a pergunta não saiu da minha mente.
É pra ser sincera não tenho tempo para ouvir meus pensamentos. Aliás, estou ocupada demais queixando dos sons que ouço. Da vida que não vejo, e que corre em frações de segundos.
Decidi, a partir de então, me dedicar a minha lista de mais de mil coisas que preciso aprender. Mil e uma. Agora quero aprender libras e, quem sabe, aprender a ouvir meus pensamentos.

 

*Tathiane, Jornalista, graduada  pela UCDB e está se especializando em Assessoria de Comunicação. Gosta de verbos no infinitivo:  ler, aprender,  dançar, cantar e comer!  Fala pouco, ouve muito. É Espíndola por parte de mãe e Panziera por parte de pai. É a Tathy que não quebra barraco mas, não foge de uma briga.

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